Avaliação neuropsicológica e prática neuroafirmativa: um olhar mais humano sobre as diferenças
- Melina Garcia Gorjon
- 21 de out.
- 2 min de leitura

Cada pessoa tem um jeito único de pensar, aprender e se expressar no mundo. A neurodiversidade parte exatamente dessa ideia: não existe um único tipo de cérebro “correto”. Existem muitas formas de funcionamento, todas legítimas e com valor próprio.
Quando trazemos esse olhar para a avaliação neuropsicológica, o foco deixa de ser apenas descobrir “o que está errado” e passa a ser entender como cada pessoa funciona, quais são suas facilidades, seus desafios e de que maneira podemos favorecer seu desenvolvimento.
É aqui que entra a prática neuroafirmativa. Ela propõe que o trabalho com pessoas neurodivergentes, como aquelas com autismo, TDAH, dislexia, entre outras, seja feito com base no respeito e na valorização das suas singularidades. Ser uma profissional neuroafirmativo é reconhecer que o objetivo não é corrigir, mas compreender e apoiar.
Na prática, isso significa adaptar o processo de avaliação: oferecer um ambiente acolhedor, respeitar o ritmo da criança, ajustar a linguagem, observar de perto como ela se comunica e reage às situações. Também significa olhar para os resultados com sensibilidade, percebendo que, por trás de cada pontuação, há uma história, um modo próprio de estar no mundo.
Importante: não se trata de romantizar dificuldades ou negar que haja desafios, mas sim de deslocar o foco do “conserto” para a aceitação e o apoio às diferenças, e da busca por potencialidades
A avaliação neuropsicológica é um conjunto de procedimentos realizados por psicólogos e neuropsicólogos para entender como está o funcionamento cognitivo de uma pessoa em relação a várias áreas (atenção, memória, linguagem, processamento visual-motor, funções executivas, entre outras). Serve para diversas finalidades: diagnóstico de condições neurológicas ou de desenvolvimento, planejamento de intervenções, identificação de forças e fraquezas cognitivas, monitoramento de progresso etc. Quando essa avaliação é feita com crianças ou em contexto de neurodesenvolvimento, a coisa se torna ainda mais sensível: como identificar variações que fogem ao “normal”, como entender o impacto no dia a dia, e, como usar os resultados de forma que favoreçam a pessoa, em vez de rotulá-la.
Tradicionalmente, muitos modelos de avaliação focavam em “deficit”, o que a pessoa não faz, o que está “errado”. A abordagem da neurodiversidade convoca olhar para “o que a pessoa faz, como faz, com que recursos conta, e o contexto em que está”. Por exemplo, no contexto de educação infantil, fala-se em “prática afirmativa da neurodivergência” (neuro-affirming practice), ou seja, que reconhece a divergência neurológica como legítima
A avaliação neuropsicológica, quando conduzida sob a perspectiva neuroafirmativa, se torna mais do que um exame. Ela vira um espaço de escuta e descoberta, que ajuda famílias e escolas a compreenderem melhor a criança, não para rotulá-la, mas para criar caminhos de apoio mais ajustados à sua forma de ser.
Afinal, compreender é o primeiro passo para incluir. E incluir é permitir que cada pessoa brilhe à sua maneira.
Referências:
https://www.teachearlyyears.com/a-unique-child/view/neurodiversity-affirming-practice-in-early-years
The Neurodiversity Approach(es): What Are They and What Do They Mean for Researchers?Dispinivel em : https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36158596/
Neuropsychological Assessment Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK513310/


