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Autismo e atendimento psicanalítico: Uma escuta para além dos sintomas

  • Foto do escritor: Melina Garcia Gorjon
    Melina Garcia Gorjon
  • 28 de jul.
  • 2 min de leitura

O atendimento psicanalítico a crianças autistas convida a um tipo de escuta que vai além da busca por causas e classificações. Diferente de abordagens que se concentram apenas no diagnóstico e na modificação de comportamentos, a psicanálise volta-se à singularidade de cada sujeito, considerando a maneira como ele se constitui em sua relação com o outro, com o corpo e com a linguagem.


criança correndo em um campo segurando uma pipa
Na escuta psicanalítica, cada gesto e silêncio da criança autista pode revelar um caminho singular para o laço com o outro

No autismo, os modos de estar no mundo podem ser bastante particulares. Muitas vezes, há um silêncio que não é vazio, mas repleto de sentidos que ainda não encontraram um canal para se expressar. Por isso, a clínica psicanalítica se estrutura como um espaço de acolhimento e de construção de vínculos, respeitando os tempos do sujeito e reconhecendo a riqueza de suas formas de existir.

O trabalho do analista, nesse contexto, não é o de interpretar rapidamente ou conduzir o paciente a uma suposta normalidade. Ao contrário, é preciso criar condições para que a criança possa inventar uma maneira própria de estar em relação. Muitas vezes, isso se dá por meio do brincar, dos gestos, das repetições ou mesmo do silêncio. O essencial é que a escuta esteja aberta ao que se manifesta como linguagem, mesmo que fora da fala.

Em um momento em que o autismo é cada vez mais discutido e diagnosticado, é fundamental que o atendimento preserve o olhar singular sobre cada criança. Isso significa não reduzir o sujeito ao seu diagnóstico, mas entender que, por trás do rótulo, há uma história, um desejo, uma possibilidade de laço.

A psicanálise, ao oferecer ferramentas para escutar o sofrimento e o modo único como cada um se organiza frente à realidade, contribui de forma potente para o cuidado de crianças autistas. A abordagem psicanalítica destaca a existência de um sujeito para além da sintomatologia, rompendo com a ideia do autismo como um simples conjunto de déficits. Em vez de ver os comportamentos autistas como falhas a serem corrigidas, a psicanálise os interpreta como tentativas de resposta subjetiva ao que é vivido como invasivo, especialmente em relação ao outro e à linguagem.

Diferentemente de terapias que visam eliminar sintomas ou “normalizar” a criança, a psicanálise propõe um tratamento que atua sobre a constituição do sujeito, envolvendo o ego, a personalidade e as questões humanas fundamentais. Essa abordagem favorece um olhar ampliado sobre a clínica do autismo, considerando a singularidade do laço social, que frequentemente não se estabelece de forma convencional.

A psicanálise, assim, diferencia-se por trabalhar com a potencialidades de cada criança, desenvolvendo seus senso de autoconfiança, respeito a si e ao outro, para que assim possa melhorar o modo como se apresenta no mundo, seu comportamento e sintomas.



Este texto se baseia nas reflexões desenvolvidas no livro Autismos e Psicanálise Brasileira: Práticas e Reflexões, de Jorge Luís Ferreira Abrão e Anahi Canguçu Marfinati.

 
 

Psicóloga Melina G. Gorjon (CRP 06/146718)

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